Um mês depois da inseminação ter sido feita, a vaca está vazia. Diagnóstico ruim para qualquer pecuarista, e prejuízo imediato para quem é produtor de leite. Mas pequenos produtores de leite da região central de Mato Grosso do Sul estão descobrindo que investir na alimentação do gado é o caminho mais curto para se chegar a uma produção sustentável e ter bons índices de reprodução dos animais. Para isso, eles contam com a ajuda de técnicos do Instituto Bio Sistêmico, do Sebrae e da Secretaria de Produção e Turismo do Estado.
Se a vaca não está prenhe, ela não pare, e se ele não pare ela não dá leite, e para o produtor de leite, este é o principal aponta a médica veterinária do IBS Marina Grandi.
O problema da baixa taxa de prenhez se repetiu também com outros animais, segundo o pecuarista Gildázio Carlos de Souza, morador do assentamento Patagônia, no município sul-mato-grossense de Terenos, há 70 quilômetros de Campo Grande. Vários fatores contribuíram para essa baixa taxa de prenhez. Mas um deles, e o mais importante, segundo o zootecnista Fabiano Galli, foi a alimentação inadequada.
Ele teve um problema de manejo de pastagem. A geada queimou o pasto e agora ele está com deficit hídrico. Como ele tem irrigação, tem que ajustar muito bem a quantidade de água, a quantidade de adubo na pastagem e a quantidade de animais. Ele está tendo dificuldade nesse quesito, o manejo do pasto analisa o zootecnista do IBS Fabiano Galli.
As novilhas e as fêmeas que vão para a segunda cria, chamadas de primíparas, são as mais exigentes quando se fala em balanceamento nutricional para animais em reprodução. Elas têm uma necessidade muito maior que as vacas adultas. A recomendação dos zootecnistas é de, no mínimo, 10% a mais de alimentação, pois elas precisam manter o crescimento, gerar uma nova vida e ainda produzir leite. O manejo de cochos e a divisão de lotes por produção e por idade ajudam para que as fêmeas mais novas tenham acesso à alimentação.
É igual a gente, se não come, não tem força para trabalhar. O gado que não come, não produz. Se não produz leite, não cicla, não dá cio. Se não dá cio, não emprenha, se não emprenha, não vem o bezerro. É uma cadeia, tem que ser tudo muito bem ajustado explica Gildásio.
Todos os profissionais que estão ajudando o pecusrista a contornar esse problema são do Instituto Bio Sistêmico (IBS), que atende pequenos produtores rurais em parceria com o Sebrae e a Secretaria de Produção e Turismo de Mato Grosso do Sul. Só na região central do Estado são atendidos 453 produtores.
A ajuda chega por meio da Vaca Móvel, do Rufião Móvel e do Agromóvel. Apelidos carinhosos que os carros da equipe receberam. A Vaca Móvel é um pequeno laboratório do leite.
Na vaca móvel a gente consegue avaliar gordura, proteína, água, extrato seco, sólidos totais, grau de acidez, se tem resíduo de detergente, testes de mastite, e faz coletas para laboratório diz o nédico veterinário do IBS Rafael Boni.
O aparelho de ultrassonografia, que ajuda a médica veterinária Marina a fazer os diagnósticos de prenhez, faz parte do Rufião Móvel. E Fabiano integra o Agromóvel, que leva orientação sobre manejo de pastagem e gestão da propriedade.
Nós trabalhamos especificamente com o pequeno produtor rural, o assentado e a agricultura familiar, que predomina no nosso Estado. Público que tem necessidade de tecnologia, de gestão, de inovação, para agregar valor ao produto diz Pauline Andrade, gestora de Leite do Sebrae.
Para a família de José Garcia, do mesmo assentamento, o principal combustível para continuar produzindo é o otimismo. Eles querem dobrar a produção diária de leite, passando dos atuais 250 para 500 litros no ano que vem. E sabem que só realizarão esse sonho se as vacas estiverem muito bem alimentadas.